O fotógrafo mineiro Tomas Arthuzzi ganha para fazer a maioria dos trabalhos, a pedido de alguma revista ou alguns clientes que lhe passam um briefing com referências daquilo que esperam como resultado final. Nessas sessões, ele aproveita para fazer algumas imagens mais fechadas do rosto para usar em seu portfólio, enquadramentos que costumam fugir um pouco do encomendado. Diante de sua lente já passaram personalidades como Mauricio de Sousa, Abílio Diniz, Sebastião Salgado, Taís Araújo, Daniela Mercury, Dinho Ouro Preto, William Bonner, Erick Jacquin e Ronaldo Fraga.
Arthuzzi se inspira em uma frase do fotógrafo Tim Tadder, que ouviu certa vez quando morava nos Estados Unidos: “grandes sujeitos fazem grandes imagens”. Ou seja, segundo ele, quem faz um grande retrato é a pessoa retratada, e não o cenário em que ela se encontra. Por isso, ele costuma usar fundos simples e se concentra no rosto, exceto nos casos em que as produções são realizadas no local em que a pessoa vive ou trabalha.
Sempre que possível, Arthuzzi procura trabalhar com outros profissionais na equipe, como assistente, maquiador e diretor de arte. “Ter colaboradores é fundamental para que você possa se concentrar na fotografia. Durante uma sessão de fotos, quanto mais papéis você desempenhar além de fotografar, maior a chance de deixar algum ponto passar, e isso pode comprometer o trabalho como um todo”, avalia.
Sem lente preferida
Na maioria das vezes, Arthuzzi conta apenas com uma fonte de luz, geralmente uma tocha de flash na qual acopla um octosoft. Mas ele não gosta de se prender a fórmulas, já que cada retrato tem suas circunstâncias. Assim, pode usar uma série de outras fontes de luz, como a natural do sol, a de uma lanterna ou a de um fresnel de iluminação contínua. Com relação ao conjunto de flashes que tem, conta que está fazendo uma transição de equipamentos da marca americana Paul C. Buff para a marca chinesa Godox, que oferece boa relação custo-benefício e tem assistência técnica no Brasil.
Atualmente, ele trabalha com uma DSLR Canon EOS 5Ds, com sensor de 50 MP. O modelo atende principalmente às necessidades do mercado publicitário por conta da alta resolução, mas também consegue bom desempenho em outras situações, comenta ele. Em conjunto com a câmera, o fotógrafo mineiro usa sete objetivas profissionais da série L da Canon, adquiridas aos poucos ao longo dos anos: as zoom 17-40 mm e 24-70 mm, e as fixas de 28 mm, 50 mm, 85 mm, 100 mm e
135 mm. Ele não tem uma lente preferida para retratos, mas considera que a distância focal mais apropriada para essa finalidade está entre 50 mm e 135 mm.
Ele também aponta a importância tanto da pré como da pós-produção: faz uma pesquisa prévia antes de fazer um retrato, lê sobre a pessoa a ser retratada, busca retratos já feitos antes para entender o que funciona bem e também para evitar a repetição de fórmulas já utilizadas. Já a etapa de tratamento das imagens é assumida em cerca de 90% dos casos por ele mesmo, que só transfere essa responsabilidade quando há algum problema de agenda ou quando é necessário fazer algo extremamente específico, que esteja fora das suas habilidades.
Esse controle sobre a fase final do processo se revela um diferencial, principalmente em trabalhos editoriais e publicitários, que contam com grande peso da manipulação digital. No caso dos retratos, Arthuzzi prefere não interferir tanto na imagem, realizando um tratamento menos elaborado.
Repertório diversificado
Os retratos são apenas uma parte do repertório de Tomas Arthuzzi, que se dedica ainda a trabalhos publicitários, editoriais e autorais com temáticas variadas. Com apenas 33 anos, ele coleciona premiações de perfis variados, tais como o Prêmio Abril de Jornalismo, o Prêmio Vladimir Herzog, o Prix de la Photographie de Paris e o prêmio SDN, concedido pela fundação Society for News Design, com sede nos Estados Unidos.
O contato profissional com a fotografia começou bem cedo, em Belo Horizonte, sua cidade natal. Aos 18 anos já trabalhava em um estúdio de fotos de formatura a convite do tio de um amigo. Depois dessa primeira experiência, passou por outros estúdios, trabalhou como segundo fotógrafo em casamento e formou-se em Publicidade e Propaganda. Quando terminou a faculdade, em 2010, mudou-se para a Irlanda onde morou por um ano, tendo também a oportunidade de trabalhar em estúdio por lá.
Ao retornar para o Brasil, em 2011, ele havia trazido bastante experiência na bagagem. O aprendizado na prática deu a ele ferramentas para conseguir passar no disputado Curso Abril de Jornalismo. Foi um dos quatro selecionados em fotografia para a formação, que durou 40 dias. O curso, realizado no início de 2012, abriu para Tomas Arhuzzi as portas do mercado editorial.
Dono de uma mente inquieta, sempre em busca de novos desafios, partiu em 2014 para Saint Louis, Missouri, nos Estados Unidos, onde fez um estágio de sete meses trabalhando com o fotógrafo Rob Grimm, mundialmente conhecido por suas fotos de bebidas e alimentos. Ao retornar a São Paulo, Arthuzzi abriu o Estúdio Cachalote, seu espaço de trabalho atualmente – que também aluga para outros fotógrafos, gerando receita extra.
Diante da diminuição do nicho de revistas impressas no Brasil após o fechamento da Editora Abril, em 2018, ele redirecionou parte de seu trabalho para a publicidade. “O mercado muda e vai mudar sempre. Vejo isso com bons olhos, pois essas mudanças permitem que novos fotógrafos consigam se destacar e alcançar boas posições. Não podemos nos acomodar e deixar que as próximas mudanças nos tirem do mercado. Particularmente, sou meio viciado em tecnologia e sempre experimento novos recursos, técnicas e tratamentos. Sempre busco um jeito de fazer as coisas de maneira mais simples e barata, e assim minhas margens sobem”, ensina.
Arthuzzi atualmente divide o trabalho pessoal em duas frentes. A primeira engloba retratos e séries autorais, que estão reunidos no site com seu nome próprio: www.arthuzzi.com. A segunda reúne trabalhos de fotografia publicitária, para qual ele construiu outra marca (um site) com o nome de PeepBox (www.peepbox.com.br). Para fotógrafos em início de carreira, ele sugere: “Treine muito, teste muito, erre muito. Erre na hora que pode errar, mas esteja preparado na hora de trabalhos de verdade. Estude, estude e estude”.
Para ele, não existe fórmula mágica: o fotógrafo deve procurar coisas inovadoras, não ficar repetindo o que os outros já fazem. “Sinto que o mercado está ficando cada vez mais pasteurizado. Procure ser autêntico, saia da caixa”, afirma.