A paisagem é um dos maiores exemplos dos quais não se pode confiar na fotografia como prova do real. A paisagem ilustrada na fotografia é tão fidedigna da realidade como qualquer uma pintada numa tela. O jogo de representação existe e apenas o que artista viu para configurar aquela vista pode ser considerado. É um local que está aos olhos do artista e suas delimitações são atravessadas por escolhas de percpectiva e de materiais disponiveis para compor a paisagem seja em pintura ou fotografia.
Nesta série, a paisagem urbana caótica e sempre em transe, é escrita através de espelhos, não se tratam de espelhos que estão dentro da câmera, embora que estes também sejam importantes, mas sim espelhos colocados próximos à lente, em um determinada abertura de diafragma. Apresentando montagens de visões da cidade, mas que não são resultado de união de fotografias, mas sim em disparo único, o espelho próximo à lente proporciona essa montagem de visões e perspectivas do meio urbano numa fotografia única.
Mas do que a paisagem, a passagem do tempo e a percepção de viver sempre dentro de um mesmo dia infinito em que tudo se repete, traz para o usuário da cidade uma sensação de mistura entre passado e presente sem fim. Um eterno dejavu em que tudo já foi visto, e o individuo passa fazer parte do próprio pano de fundo do quadro em que ele está representado. Cidades Recriadas aborda justamente esse eterno jogo de apropriação do que se vê nas cidades através dos nossas memórias e olhares desatentos e apressados.