Este ensaio retrata a infância nas margens da cidade, onde brincar se torna um ato de invenção e resistência. Longe das áreas planejadas, as crianças ocupam terrenos baldios, árvores ressecadas e o céu — com linhas de pipa estendidas como gestos de liberdade.
As imagens revelam um cotidiano marcado pela ausência: de infraestrutura, de visibilidade, de políticas que reconheçam esses corpos e espaços como parte legítima da cidade. Ainda assim, ali floresce um tempo outro — o tempo do brincar, do improviso, do sonho.
As pipas enroscadas, os pés descalços, a terra batida — tudo compõe uma paisagem que carrega tanto a beleza quanto o abandono. Fotografar essa infância é lançar um olhar que recusa a estética da falta e aposta na potência da sobrevivência.
Educador e filho de fotógrafo de cidade do interior, o autor encontra nessas cenas um reflexo da sua própria história, e uma forma de afirmar: mesmo nas condições mais adversas, há infância — e ela sonha.