Eixos paralelos de concreto e asfalto entrelaçam as vias que compõem a dinâmica cartografia da cidade, criando uma tensão entre a racionalidade geométrica e o emaranhado de existências humanas. No coração de São Paulo, a grande subjetividade toma o palco e o corpo do catador de materiais recicláveis é um vetor constante de diálogo, expressando uma linguagem instintiva.
As horas do dia marcam uma jornada intensa que começa cedo, com as mãos vazias, e termina com sacos cheios de insultos. Seus corpos estão inscritos em um sistema simbólico social de pobreza e exclusão, que traz um alto grau de abstração e recai sob o peso das acusações sociais de perturbar o fluxo natural da cidade e manchar a paisagem urbana. Assim, os catadores são notados, estão fora do registro social conhecido e do coletivo, sem garantias mínimas e dignidade.
Pés descalços, roupas rasgadas, corpos sujos, cheiro incessante, olhos vermelhos e sacos nas mãos são os elementos que homogeneizam essa categoria e geram formas contínuas de violência na tentativa de exclusão. No entanto, é por meio de seus corpos que surgem possibilidades de resistência nesta interface com o espaço urbano. É nas ruas que se cria a sabedoria sobre a vida, a dor e a verdade dos valores e sentimentos causados pelos limites extremos da experiência humana. É no caminhar pelo centro da cidade que os catadores afirmam sua existência, expressam sua subjetividade e criam possibilidades.
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