No coração da Amazônia, em uma região onde o acesso só é possível pelas águas, está o povo ribeirinho que vive no Estreito de Breves, na Ilha do Marajó — a maior ilha fluviomarítima do planeta. Longe dos grandes centros urbanos e com comunidades afastadas entre si, a vida aqui acontece à beira dos rios, que funcionam como ruas, pontes e estradas.
Nesse contexto, a canoa não é apenas uma modalidade de transporte, é necessidade. Se a canoa não vai, o corpo não chega. Se o motor não funciona, o peixe não vira alimento, o açaí não gera renda, o remédio não alcança quem precisa. É sobre a água que tudo circula: gente, comida, saúde, informação, rotina.
As pequenas embarcações, muitas vezes feitas à mão, são ferramentas essenciais à sobrevivência. Hoje, as rabetas, barcos com motores adaptados, se tornaram comuns na paisagem amazônica. Elas ajudam a encurtar distâncias, atender emergências e manter a rotina funcionando. Coloridas, ágeis e versáteis, elas cruzam igarapés, ligam comunidades e fazem parte do dia a dia.
Desde criança, tenho uma relação forte com esse cenário. Nas viagens de barco entre Santarém e Belém, quando o rio se estreitava e o navio passava perto das margens, eu observava fascinado as casas simples e coloridas, as famílias e as canoas amarradas à porta das casas.
Esta série de fotografias documentais retrata esse modo de vida. Por meio das imagens, busco revelar a dura realidade e a exuberante resistência marajoara, destacando a importância das embarcações na rotina ribeirinha e a conexão profunda entre as pessoas e o rio.
Fotografar essa relação é revelar um aspecto essencial da vida amazônica: a forma como resistência, esforço e necessidade transformam madeira e motor em instrumentos de sobrevivência. Esse modo de vida revela-se, de maneira marcante, na habilidade com que crianças conduzem embarcações desde muito cedo. Mais do que aprender a navegar, elas são preparadas para lidar com as incertezas do rio, desenvolvendo coragem, senso de responsabilidade e uma maturidade admirável.