Nasci e vivi no centro de Belém, a mais antiga metrópole da Amazônia brasileira, um lugar que já foi conhecido como “a Paris dos trópicos” e que ainda se ressente disso. Hoje, nada mais é que uma pequena ilha asfaltada e arborizada, cercada por um mar de ocupações irregulares por todos os lados, um dos territórios mais desiguais do planeta.
Deixar esse centro branco e europeu, pretensamente civilizado, e partir para as margens, pode ser a chance de estourar uma bolha ancestral. Foi o que fiz na pandemia. Fugindo do centro e dos seus tempos, resolvi mudar para a cidade ao lado, que cresceu sendo a grande periferia de Belém.
É claro que os brancos migrados para estas margens se reordenam em novas comunidades – se buscam, se realinham e se bastam em novos condomínios com quadra de tênis e piscina –e esquecem muitas vezes de olhar para a cidade que os acolheu. Resolvi fazer diferente. Desde então, sigo buscando me aproximar da minha nova cidade, tentando entender suas características, seus tempos e movimentos, o que a faz ser única. Precisamos, eu e a cidade, construir nossa amizade, afinal.
“Ananindeua, a casa ao lado” é um processo de descoberta e de arrebatamento por uma cidade em que escolhi viver. Um lugar que esconde belezas e dores a cada esquina, onde certos signos e tempos amazônicos ainda re-existem nas beiradas.