O relógio segue em eu ritmo habitual, e a câmera fotográfica tenta acompanhá-lo. É uma atividade desafiadora essa de estar com o tempo. Ainda assim, Jaqueline Godoy assume a provocação; conversa com os segundos e, por vezes, ameaça transpô-los. Utiliza a câmera como forma de dialogar com os acontecimentos e se encontrar em um momento de desalento. Seu olhar procura… e encontra Ruy no toque entre os corpos, em meio a tentativas de comunicação.
Compasso fala sobre reconhecer que vivemos em meio à perda iminente. As imagens de Jaqueline Godoy acompanharam os últimos anos de Ruy, seu companheiro de vida, acometido por uma doença degenerativa. São fotografias que navegam por espaços ora familiares, ora hospitalares. Imagens que registram a permanência do afeto, congelando instantes em que, nesse caso, os participantes sabem que não vão se repetir. É sobre o encontro entre duas paixões: Ruy e a fotografia. Se, em outros momentos da vida, foram as palavras que mantiveram o casal próximo, agora são as imagens que os colocam em contato.
Em Compasso, fotografar é um gesto de aproximação, de busca de entendimento. O tempo se revela no acercamento e distanciamento entre os corpos, nos ponteiros dos relógios e na manutenção do cotidiano, mesmo com o horizonte da ausência. Ao virarmos as páginas, ouvimos o barulho dos ponteiros: tique, taque, tique, taque. Seríamos nós mesmos a movê-los?
Texto: Milena Costa