PROJETO CRISÁLIDA
Por Guilherme Lima e Paula Aguilera
Crisálida é um projeto comovente e inspirador que oferece uma perspectiva íntima e compassiva sobre os desafios enfrentados durante o tratamento do câncer de mama de Paula Aguilera. Uma mulher de 32 anos que no final de 2020, em pleno isolamento da Covid-19 descobriu um nódulo no seio e foi diagnosticada com a doença.
Desde o diagnóstico Paula quis registrar todo o processo e convidou o fotógrafo Guilherme Lima, que através das suas lentes revela a complexa jornada de Paula, com empatia, amor e respeito. Ao espectador é feito um convite para adentrar no casulo que abriga e protege a metamorfose da borboleta, de forma honesta, sem floreios e sem pudores.
Durante o tratamento as mudanças na aparência da mulher podem afetar a percepção de si e de sua identidade. A perda do cabelo, infertilidade, bloqueio hormonal, solidão, tristeza e todas as mudanças estéticas são apenas alguns dos desafios. Apesar do impacto físico e emocional da quimioterapia, radioterapia, cirurgia de mastectomia e uma grande cicatriz no lugar do seio, Paula se mantém firme e resiliente.
O projeto desafia os estereótipos sobre a doença combinando registros reais e posados, inspirado em referências artísticas para criar uma conexão simbólica e emocional com espectador e promover uma compreensão mais profunda da doença. Destacando momentos de coragem, resiliência e autoamor, e momentos desafiadores de vulnerabilidade. Explorando essa interseção entre a arte e uma realidade crua, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade.
O título surgiu quando uma borboleta pousou na mão da Paula e ali permaneceu enquanto ambas dançavam pelo jardim. Crisálida é o estágio em que a lagarta se desfaz da sua pele e produz um casulo protetor em volta de si até a completa metamorfose. A escolha do nome é uma metáfora para representar as transformações vivenciadas pelas mulheres em tratamento de câncer.
O projeto é um testemunho da resiliência da natureza humana, demostrando que diante da adversidade todos podemos encontrar a força para seguir em frente, um dia de cada vez. E através de um recorte delicado e corajoso desafia as noções convencionais de beleza e retrata a força da mulher diante dos desafios do tratamento do câncer e do olhar da sociedade.
Crisálida instiga o público a perceber a beleza e a coragem que surgem na dor e nos momentos mais difíceis da vida, com a certeza de transmitir uma mensagem de força, esperança e inspiração para outras mulheres através da fotografia.
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Paula exibe com orgulho o cabelo que acabou de cortar e que ela tanto prezava antes que a quimioterapia os fizesse cair. Sua postura reflete coragem e ousadia para enfrentar seu tratamento.
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Totalmente careca e já tendo iniciado a quimioterapia ela tenta rasgar a própria roupa num gesto de luta interna, como que querendo rasgar a Paula antiga para a chegada da nova Paula.
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Um sorriso aflora quando uma borboleta pousa deliberadamente em suas mãos e elas saem dançando pelo jardim. Neste momento a borboleta evidencia o momento de transformação pela qual Paula vem passando.
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A imagem revela um certo de cansaço e tristeza que também fazem parte do processo. Paula sentou-se sozinha e introspectiva na sala com sua xicara de café à mão. Mesmo chorosa, ela ainda manteve um leve sorriso de cumplicidade, como se dissesse: “isso é difícil, mas ainda estou aqui”.
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Uma semana após a cirurgia Paula abre o vestido e revela os drenos ainda presos ao seu corpo. A imagem retrata um misto de vulnerabilidade e força durante seu estágio de recuperação. É também uma metáfora de transformação para a mulher corajosa que ela viria se tornar. Era seu aniversário de 33 anos.
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Sentada graciosamente em um sofá branco com a luz iluminando suavemente a sala, Paula direciona o olhar em direção a janela, seu vestido azul floral e o grande chapéu branco dão o toque da elegância. Ela está imersa com a passagem do tempo e a chegada do seu 33º aniversário.
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A imagem captura Paula sem camisa olhando para o lado e para cima, evitando encarar a recente cicatriz em seu peito. Mas sua postura é de coragem e resistência, mesmo após uma mastectomia. Ao seu lado, apenas os corpos do médico e da enfermeira são visíveis, cada um de um lado. A presença silenciosa deles oferece um contraponto de apoio e cuidado.
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No mesmo dia da retirada dos drenos e dos pontos se dá o procedimento de aumento da mama. É injetado um líquido para que a pele vá esticando aos poucos, que se dá em várias sessões antes da radioterapia para que a pele não endureça e assim, possa receber o silicone na reconstituição final.
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Um gesto que sugere autoexame e consciência da sua mudança física, Paula sentia-se incondicionalmente amada por si mesma, reconhecendo que aquilo fazia parte dela e que era lindo. Posar com as rosas amarelas trouxe mais doçura ao momento.
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Paula repousa sobre uma pedra e ao fundo um céu tempestuoso, sua expressão serena contrasta com o ambiente numa atmosfera sombria e melancólica. Um lembrete poético da complexidade e profundidade da experiência humana.
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Paula tem sua individualidade enfatizada pela sua postura ereta e confiante, uma afirmação silenciosa de força e resiliência em meio a uma ventania que nos avisa da chegada de uma tempestade. Ela irradia uma quietude poderosa e uma dignidade inabalável. Uma representação visual poética que nos convida a refletir a força de uma mulher diante das adversidades da vida.
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Durante a radioterapia, foi essencial após a hidratação deixar a pele respirar e aproveitar o momento para descansar. E assim, esparramada no sofá da sala, Paula aproveitou para se sentir diva.
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Sentada sobre seus próprios joelhos e encarando a câmera Paula mantem uma linguagem corporal expressiva. Um lembrete da sua própria complexidade e da beleza que se revela diante de um feixe de luz que se lança sobre ela. O jogo de luz e sombra nos convida a contemplação da vida.
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Paula figura resiliente e inabalável relaxada em uma cadeira. A postura confiante e o sorriso no rosto são testemunhos de sua jornada de cura e triunfo. Um retrato poderoso da força do espírito da mulher, sua elegância, coragem e otimismo. Uma imagem para celebrar a vida e o ser humano extraordinário que surge das adversidades.