Há partidas que acontecem devagar.
Esta série retrata, em 15 imagens em preto e branco, os últimos dias de uma mulher que foi costureira a vida inteira — e que, mesmo sem palavras, continuava costurando laços ao seu redor.
No silêncio do hospital, os filhos se reuniram. Vieram de longe para se despedir não apenas da mãe, mas do tempo vivido com ela. Os netos, os bisnetos, os olhos marejados, as mãos que ainda tocavam, os gestos de cuidado — tudo isso foi testemunhado pela lente.
Não há encenação. Há presença.
E, no meio da dor, há também beleza.
Essas fotografias não falam da morte. Elas falam do amor que ficou.

A porta não se fechou por completo.
Porque a despedida, mesmo quando certa, insiste em deixar brechas.
No quarto 307, o tempo escorria devagar — e a vida, ainda que frágil, resistia em permanecer.

Um toque diz o que as palavras já não alcançam.
Na palma enrugada, a memória de uma vida inteira.
E mesmo em silêncio, ela respondia — com a força de quem ainda estava, mesmo partindo.

Em cada gesto, o amor que insiste.
Mesmo quando o corpo fraquejava, a presença deles era alimento — um sopro de vida nos minutos que restavam.

No fundo da cena, o cansaço de quem ama.
Na frente, o esforço de quem fica tentando manter acesa a chama. Ali, entre suspiros e silêncios, todos respiravam juntos — por ela.

Enquanto o corpo descansava, a vida seguia nos gestos cotidianos.
A faxina silenciosa não apagava a história — apenas preparava o espaço para o que vinha depois.

Os olhos já não se abriam, mas havia mãos unidas em oração.
A fé costurava o que as palavras não conseguiam — um último gesto de amor antes do adeus.

Fechar os olhos, às vezes, é a única forma de suportar.
É quando o corpo tenta conter o que o coração já não dá conta de segurar.

Um último toque. Um gesto contido de dor.
Na iminência do adeus, cada segundo vira eternidade — e o corpo tenta, como pode, segurar o que já escapa.

Não era só o corpo que seguia — era a história inteira.
Cada passo no cemitério carregava memórias, afetos e raízes que não se enterram.

Entre o avô e a filha, o silêncio compartilha o mesmo peso.
Cabeças baixas, passos lentos — o amor atravessando gerações, mesmo na dor.

Empurrar o carrinho era mais do que um gesto físico —
era guiar, com respeito e honra, quem um dia nos guiou com amor.

O cimento selava o túmulo, mas era no abraço que a história permanecia.
Entre lágrimas e silêncio, uma família inteira tentava compreender o vazio — e, ao mesmo tempo, honrar tudo o que viveu.

Os mais jovens observavam em silêncio o fim de um ciclo que mal conheciam por completo —
mas que os molda mesmo assim.
Ali, entre cimento e tijolos, aprendiam sobre amor, perda e permanência.

A coroa repousa como um último tributo,
enquanto a partida acontece em silêncio, carregando amor, memória e saudade nos passos que se afastam.