Esta série fotográfica coloca em evidência as mãos de trabalhadores negros — protagonistas da economia informal e herdeiros de uma longa história de resistência, invisibilidade e criatividade.
São as mãos do trabalho informal — invisíveis para muitos, mas essenciais para todos.
O trabalho informal no Brasil tem cor, gênero e território: é majoritariamente negro, feminino e periférico. Segundo dados do IBGE, mais da metade da população negra economicamente ativa está inserida na informalidade — índice ainda mais expressivo na Bahia.
Esses números escancaram as desigualdades estruturais enfrentadas por trabalhadores negros no mercado de trabalho.
A informalidade, o desemprego e a disparidade de oportunidades não são apenas estatísticas: são expressões concretas de um sistema desigual que precisa ser enfrentado com políticas públicas eficazes, voltadas à promoção da equidade racial, de gênero e territorial.
As mãos negras que ilustram esta série nos lembram que o trabalho informal não é apenas sobrevivência — é também expressão cultural, criatividade e resistência. Gestos de Sobrevivência convida o olhar a uma contemplação sensível e política: reconhecer o invisível, valorizar o gesto e reposicionar a centralidade do corpo negro no imaginário do trabalho.
Em cada imagem, não é o rosto que conduz, mas a mão. Cada mão retrata e narra uma trajetória coletiva marcada pelo racismo estrutural, pela ausência de direitos formais e pela reinvenção cotidiana.
Os rostos não aparecem, mas os gestos das mãos, suas texturas, a beleza dos enfeites, os movimentos dos dedos, contam as histórias. Em cada mão, uma profissão, uma prática de rua, um meio de sustento, uma cultura viva.
Mãos de um vendedor de pentes, escovas de cabelo, raladores de frutas e legumes, que improvisa seu balcão com o que tem.
Mãos de uma senhora que vende amendoim torrado na janela de sua casinha no interior.
Mãos de um artesão que cria e modela como quem brinca com a argila.
Mãos de um vendedor de flores em uma festa popular, que se ornamenta para atrair o olhar e garantir suas vendas — ele se arruma como quem arruma uma vitrine, e essa vitrine é ele mesmo.
Vendedores ambulantes que se movem pela cidade como vitrines vivas, conduzindo seus produtos de mão em mão.
O que conecta todas essas cenas é a ação das mãos — e o que elas carregam: calos, sustento, memória, beleza e resistência.
A informalidade, muitas vezes tratada como margem ou ausência de ordem, aqui é apresentada como potência e presença. Revelam a criatividade popular, o empreendedorismo forçado pela exclusão e a beleza de um saber que atravessa gerações.
Com mãos que lavram, vendem, organizam, criam, ofertam e servem, esta série nos convida a olhar mais de perto para o que sustenta as cidades — não por baixo, mas à vista em toda parte: nas ruas e nas esquinas.
Mãos negras que trabalham e narram, em silêncio, a verdadeira história do Brasil.