Isolamento Concreto é uma série fotográfica contínua, realizada em filme 35mm, que parte da experiência cotidiana de exploração e desgaste produzidos pela lógica urbana contemporânea. Fotografada majoritariamente em São Paulo, a série investiga como a metrópole fabrica isolamentos múltiplos — físicos, emocionais e temporais — ao impor ao corpo um ritmo que raramente coincide com seu próprio tempo interno. As imagens registram pessoas capturadas em instantes de hesitação, lentidão ou dispersão, momentos em que o indivíduo parece se deslocar em outra velocidade enquanto a cidade segue indiferente. O concreto, as sombras e a geometria urbana funcionam como estruturas que comprimem o espaço, estendem a espera e criam a sensação de que a solidão nasce não apenas das pessoas, mas da própria arquitetura da metrópole. O isolamento, aqui, não é exceção: é condição cotidiana.
A série reúne 14 fotografias analógicas que exploram diferentes gradações de solidão e desconexão no espaço urbano contemporâneo. A sequência é linear e obrigatória: o percurso visual foi pensado como uma escalada emocional e imagética, conduzindo o visitante da aridez absoluta à intensificação máxima do isolamento humano. A ordem das imagens não é apenas um arranjo estético, mas um movimento narrativo contínuo em que cada foto prepara a passagem para a seguinte, e pular qualquer etapa quebra a experiência.
Imagem 1. Abertura: o vazio como prelúdio do isolamento
A primeira fotografia, em preto e branco, é a única sem figuras humanas. Apenas bancos de concreto ocupam o quadro, imóveis e silenciosos. Ela estabelece o tom: o isolamento não começa nas pessoas, mas na própria cidade; em seus espaços projetados para conter corpos que raramente encontram repouso.
Imagens de 2 a 8. Corpos cercados por concreto
As sete imagens seguintes introduzem indivíduos isolados em meio ao ambiente urbano. São figuras pequenas diante da escala arquitetônica, embora num crescendo que as aproxima progressivamente do olhar. Seus rostos quase nunca aparecem, seja pela distância, pelo enquadramento ou pela luz. Essa ausência de identidade reforça a metrópole como máquina de anonimização. Trabalhadores, transeuntes e pessoas em pausa parecem suspensos num tempo próprio, deslocados do ritmo que os cerca. Mesmo quando há outras pessoas no fundo da imagem, cada personagem permanece contido em si mesmo. O isolamento se manifesta de múltiplas formas: espera, cansaço, dispersão ou desatenção, sempre atravessadas pela presença pesada do concreto.
Imagens de 9 a 11. A cor como fratura e a rotina produtiva
As três fotografias seguintes marcam uma ruptura. Agora coloridas, mostram, de forma mais óbvia que as anteriores, pessoas a caminho do trabalho, carregando objetos e submetidas ao ritmo produtivo da cidade. No meio da sequência em preto e branco, a cor funciona como comentário irônico e acentua a tensão entre vida e exaustão. Ela revela tonalidades que o preto e branco apagaria e expõe camadas de exploração, repetição e desgaste que estruturam o cotidiano metropolitano. O isolamento aparece menos como silêncio e mais como fadiga, como se os corpos avançassem sem realmente se acompanhar.
Imagens de 12 a 14. O auge do isolamento: multidões sem encontro
As últimas três imagens retornam ao preto e branco e ampliam a dimensão social do isolamento. As figuras estão cercadas por outras pessoas, mas emocionalmente apartadas. A cidade surge como fluxo humano que não se reconhece. Cada indivíduo é atravessado por trajetórias paralelas que (quase) nunca se cruzam de fato. A fotografia final apresenta o ponto de maior tensão, com densidade visual que intensifica a sensação de perda de contato: estar junto não significa estar com.
Percurso
A organização linear da série, que começa no vazio, passa pela solidão individual, atravessa a exaustão produtiva e culmina na multidão desarticulada, constrói um itinerário emocional que espelha a própria experiência metropolitana. Em Isolamento Concreto, a cidade não é apenas cenário, mas força que molda gestos, silêncios e modos de existir. Cada fotografia é um ponto de atrito entre o indivíduo e o espaço urbano, revelando um cotidiano em que o isolamento não é intervalo, mas paisagem permanente.

As sete imagens seguintes introduzem indivíduos isolados em meio ao ambiente urbano. São figuras pequenas diante da escala arquitetônica, embora num crescendo que as aproxima progressivamente do olhar. Seus rostos quase nunca aparecem, seja pela distância, pelo enquadramento ou pela luz. Essa ausência de identidade reforça a metrópole como máquina de anonimização. Trabalhadores, transeuntes e pessoas em pausa parecem suspensos num tempo próprio, deslocados do ritmo que os cerca. Mesmo quando há outras pessoas no fundo da imagem, cada personagem permanece contido em si mesmo. O isolamento se manifesta de múltiplas formas: espera, cansaço, dispersão ou desatenção, sempre atravessadas pela presença pesada do concreto.


As três fotografias seguintes marcam uma ruptura. Agora coloridas, mostram, de forma mais óbvia que as anteriores, pessoas a caminho do trabalho, carregando objetos e submetidas ao ritmo produtivo da cidade. No meio da sequência em preto e branco, a cor funciona como comentário irônico e acentua a tensão entre vida e exaustão. Ela revela tonalidades que o preto e branco apagaria e expõe camadas de exploração, repetição e desgaste que estruturam o cotidiano metropolitano. O isolamento aparece menos como silêncio e mais como fadiga, como se os corpos avançassem sem realmente se acompanhar.


As últimas três imagens retornam ao preto e branco e ampliam a dimensão social do isolamento. As figuras estão cercadas por outras pessoas, mas emocionalmente apartadas. A cidade surge como fluxo humano que não se reconhece. Cada indivíduo é atravessado por trajetórias paralelas que (quase) nunca se cruzam de fato. A fotografia final apresenta o ponto de maior tensão, com densidade visual que intensifica a sensação de perda de contato: estar junto não significa estar com.








