Eles são os excluídos da globalização, os párias, os marginalizados, os mendigos, os sem teto e hoje ganharam o pomposo título de “pessoas em situação de risco social” ou “população de situação de rua”. São pedintes que encontramos nas ruas. Gente como a gente, que carrega histórias de vida muitas vezes surpreendentes. Uma vila, uma senzala, um campo de concentração, um hospício, um reflexo do que acontece nas ruas da cidade? A Fazenda Modelo foi tudo isso um pouco.
Criada em 1947, ela logo se tornou um dos maiores depósitos de mendigos do mundo. Localizada na zona oeste do Rio de Janeiro, ocupava 47 mil hectares e chegou a abrigar 5 mil pessoas, entre crianças, adultos e idosos que viviam nas ruas ou foram vítimas de algum infortúnio, perdendo tudo o que tinham. Boa parte não nasceu na miséria. Alguns ja tiveram casa, carro, emprego e famílias estáveis, mas sofreram algum revés da vida ou fugiram, deixando o passado para trás. Neste ano de 2023, faz 20 anos que a Fazenda Modelo foi desativada.
Em 2003, graças aos esforços de Marcelo Cunha, médico e diretor, a Fazenda Modelo começou a ser “desconstruida”, assim como grandes depósitos de “indesejáveis”, como a Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, o Juquiri e o Carandiru, em São Paulo. Mas o problema social que a gerou está longe de ter encontrado solução. Sem o teto e o alimento fornecidos pelo Estado, hoje as pessoas que encontrariam abrigo na Fazenda Modelo estão entregues à própria sorte e vagueiam pelas ruas do Rio de Janeiro e do Brasil.
Através da fotografia este trabalho convida para uma reflexão de ver a condição humana nos grandes centros urbanos a partir de uma realidade que existiu na cidade do Rio de Janeiro. Principalmente, através do retrato como uma maneira de ir ao encontro do outro, com a realidade que nos cerca e que muitas vezes não queremos ver ou fingimos não existir ou que mesmo, escolhemos desviar o olhar.
*Este trabalho foi realizado com filme PB 35mm