As imagens desse portfólio são autorretratos produzidos entre 2020 e 2022, durante a pandemia da COVID-19. As sessões foram feitas na casa em que nasci e cresci, no meu quarto, aproveitando a entrada de luz e o espaço entre a porta da varanda e o armário. Foi nessa casa que encontrei um caminho para escrever com a luz, para expressar – em imagem – silêncios que há muito acompanhavam esse meu corpo-mulher e as angústias recém chegadas daquele contexto histórico e político.
Esse pequeno pedaço de parede se tornou um abrigo no isolamento, uma espécie de portal que permitiu conectar, através da fotografia, o mundo de fora e o mundo de dentro. São registros entre a ficção e a realidade, entre cenas planejadas e a gestualidade espontânea do próprio corpo, sobre como tudo transborda no isolamento (dentro e fora): sentimentos conflitantes que convergem para fazer vazar. Nesse processo, meu corpo é ferramenta, território de experimentação e expressão. O corpo: esse pedaço de matéria que se esvai na passagem do tempo… As imagens: gesto, rastro, memória, registro que marcam esse corpo num tempo-espaço: um momento duro para estar viva, quando fotografar a mim mesma foi ritual de resistência.