‘são paulo delirante’ é um ensaio que iniciei em 2019 de forma bastante experimental, quase acidental, e que começou a ganhar corpo e um estilo próprio a partir de 2020 durante o início do período pandêmico, quando pouco ou nada deixávamos nossos lares. A série mescla dois assuntos que são de meu especial interesse: a cidade, com sua arquitetura e seu skyline (horizonte de edifícios) e a psicologia, nossos medos e inquietações.
Este é um trabalho bastante pessoal. Representa uma forma de ver a cidade, é quase como uma conversa com ela. Também fala sobre uma relação que tem seus altos e baixos, já que não sou paulistano e morar aqui foi uma decisão que tomei e que de tempos em tempos venho a questionar.
São Paulo é uma cidade que oferece muito: cultura, lazer, entretenimento, oportunidades profissionais e de conhecimento. Mas ela também cobra seu preço, com a poluição, a violência, o trânsito caótico, o excesso de gente. Lidar com tudo isso não é fácil, e manter o equilíbrio da balança, ou da mente, é um exercício diário.
Tendo essas características, São Paulo é a é a metrópole com maior prevalência de transtornos mentais do mundo (Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, iniciativa OMS, 2012). Eu sofro com um destes transtornos, a ansiedade. Coincidentemente, entre todos, o Brasil é o pais que mais sofre com esse mal (também segundo OMS). Talvez seja uma tendência que já venha da minha natureza, e não apenas consequência de onde estou. Mas é inegável que essa cidade e muitas das grandes metrópoles estão repletas de situações que favorecem e muito o surgimento de sentimentos negativos.
A arte é uma forma de refletir sobre tudo isso, de ver algo interessante nesse aglomerado tão complexo. Meu olhar de arquiteto sempre me faz prestar atenção nas linhas e planos da cidade. Ela é viva, sempre se move e se transforma. Quando eu a vejo do alto parece que esse movimento se mostra mais intenso, e aí ela me oprime, ou me dá medo. As emoções afloram, e aí vem o nervosismo, a angústia, medo de altura ou de multidões, preocupações diversas, sensações que variam de intensidade ao longo do tempo e podem se mostrar tão opressivas a ponto de desencadear distúrbios mais duradouros.
Através de técnicas como o movimento intencional da câmera (ICM), de uma velocidade de obturador mais lenta, explorando luzes trêmulas e alto contraste, ou ainda me aproveitando de cores mais carregadas dos horários do nascer ou do pôr do sol, tento explorar e refletir sobre as emoções: o quanto delas é provocado pelo meio urbano e o quanto é apenas fruto dos meus próprios processos psíquicos? Aí tento encontrar algum sentido no caos e identificar algo de bom e de belo neste ambiente tão denso e complexo. Nesta série mostro a cidade que vejo nestes momentos, com toda cor, luz e energia que consigo encontrar.