A palavra trabalho vem de tripalium — um instrumento de tortura com três pontas, usado para punir condenados e, sobretudo, pessoas escravizadas. Desde as primeiras civilizações, as elites raramente trabalharam com as próprias mãos: concentravam terras, armas e poder, e prosperavam a partir da força imposta sobre os vencidos.
Com o tempo, a máxima “o trabalho dignifica o homem” ganhou força — especialmente entre correntes protestantes europeias. Essa ideia foi usada para justificar a escravização de africanos, como se o sofrimento pelo trabalho forçado pudesse “purificar” suas almas e torná-los dignos perante Deus. O desfecho histórico não é difícil de enxergar: uma Europa enriquecida à custa de uma África explorada e empobrecida.
Durante minha passagem por Cuba, minha câmera encontrou rostos marcados pelo esforço cotidiano. Gente que trabalha muito, em condições difíceis — assim como no Brasil — e que, apesar disso, tem pouco acesso a direitos, oportunidades e escolhas. Fica evidente que o sistema político, seja onde for, ainda não foi capaz de romper com esse ciclo. Uma elite — política, militar, branca ou religiosa — continua colhendo os frutos do esforço da maioria. E o discurso, quase sempre, é o mesmo: “Trabalhem duro, vocês são essenciais para o país”.
Neste ensaio, o que me move é afirmar o contrário do que nos foi ensinado: o ser humano é digno por si só. Onde há justiça, ética e respeito, o trabalho não oprime — ele constrói. Quando a dignidade é o ponto de partida, o trabalho pode, enfim, ser expressão de potência e não de punição.

