Entre Buenos Aires e Ushuaia, a fotógrafa argentina-armênia Araz constrói uma obra profundamente marcada pelo tema do deslocamento forçado e da invisibilidade de grupos sociais minoritários. Aos 55 anos, com trajetória dividida entre as duas extremidades argentinas, ela desenvolve um olhar documental sensível a culturas marginalizadas, especialmente migrantes, refugiados e desterrados – tema que a comove pessoal e profissionalmente. Sua fotografia nasceu das viagens e da urgência em registrar histórias que os meios de comunicação convencionais frequentemente ignoram, transformando-se em instrumento de preservação da memória e denúncia do apagamento.
Seu ensaio “O Olhar do Adeus“, finalista na categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um testemunho visceral do recente êxodo armênio. Realizado há dois anos durante uma viagem familiar à Armênia, coincidindo tragicamente com nova onda de expulsões de suas terras ancestrais, o trabalho documenta a dor de seu próprio povo frente à indiferença internacional. Araz encontra-se na cruel posição de reproduzir as mesmas imagens de desterro que a assombraram na infância através das fotografias do Genocídio de 1915, criando um arquivo histórico para que a verdade não seja tergiversada com o tempo. O projeto conecta-se organicamente com sua produção anterior – que inclui registros de campos de refugiados haitianos, centro-americanos e sírios na Grécia e México, além de grupos étnicos como Molokanes, menonitas e amish –, consolidando sua busca por dar visibilidade aos invisibilizados.
Conheça mais sobre esta jornada entre duas pátrias e os projetos que interrogam a identidade na era da vigilância na entrevista que segue.



Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 55 anos e vivo e trabalho alternadamente entre Buenos Aires e Ushuaia (Argentina).
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Cheguei à fotografia através das viagens e pelo meu interesse por grupos sociais minoritários em particular. Interessa-me registrar especialmente culturas que não têm tanta visibilidade nos meios. E um tema que me comove muito são os migrantes, refugiados e desterrados.


Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O trabalho que apresentei neste concurso me toca de maneira pessoal, já que como disse na resposta anterior, os desterrados forçados (lamentavelmente cada vez mais no mundo) me comovem imensamente! Desta vez tive que fazer o registro do meu próprio povo, os armênios, sendo expulsos de nossas terras ancestrais ante a indiferença e o silêncio do mundo. Fiz isso há 2 anos quando aconteceu esta tragédia e casualmente me encontrava em viagem familiar na Armênia. Obviamente meu impulso foi a urgência e necessidade de documentar os acontecimentos, para que fique um registro histórico e que com o passar do tempo não se possa tergiversar a verdade. Jamais pensei que como fotógrafa e armênia algum dia me tocaria ter que reproduzir o mesmo tipo de fotos com as quais cresci, as do Genocídio de 1915. As fotos que jamais haveria querido fazer de situações que não deveriam existir no mundo.
Integra-se de modo linear e conceptual no meu trabalho e desenvolvimento fotográfico, já que previamente fotografei centros e acampamentos de refugiados haitianos, centro-americanos, sírios, na Grécia, México, e também grupos étnicos como os Molokanes, menonitas, amish…
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente estou expondo “Como 2 gotas de água” no Aeroporto Jorge Newbery em Buenos Aires, é uma série de imagens paralelas entre Armênia e Argentina, uma ponte para vincular os 2 países que sinto como pátrias em meu caráter binacional.
E estou desenvolvendo um projeto conceitual “Under Surveillance” onde proponho o dilema da paradoxo de manter a propriedade de nossa própria identidade individual em um mundo hiper vigiado onde cada um de nossos movimentos fica registrado no plano público e privado com câmeras de vigilância, desde nossos dispositivos móveis que nos escutam e sabem tudo de nós. Ainda assim, como fotógrafos, às vezes nos topamos com situações em que pessoas em espaços públicos se negam a ser fotografadas. Podemos nos apropriar de um rosto que se encontra em um espaço público…? Estou considerando montar a exposição com uma plataforma de meio audiovisual como se fosse a projeção de uma gravação de uma câmera de segurança. Estou em revisão de portfolio em pleno desenvolvimento.

