Em Salvador, onde vive e trabalha, Vinicius Xavier constrói uma fotografia que é ao mesmo tempo sacerdócio, pesquisa antropológica e ato político. Aos 46 anos, o fotógrafo – também Ogan de Xangô no Terreiro Ilê Axé Icimimó, em Cachoeira (BA) – desenvolve desde 2003 um discurso visual dedicado ao encantamento da cultura popular afrobrasileira, movido pela urgência de deixar um legado do “Brasil que sonhou”. Com formação em Comunicação e Antropologia, seu trabalho transita entre festivais internacionais e a devoção cotidiana aos terreiros, criando uma ponte entre a tradição e a contemporaneidade.
Seu ensaio “ECO EGUM“, finalista na categoria Ensaio do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é uma intervenção visual audaciosa sobre as cicatrizes abertas da escravidão. Utilizando a Feira de São Joaquim – mercado popular predominantemente negro em Salvador – como microcosmo do Brasil, Xavier insere digitalmente imagens de pessoas africanas escravizadas (registradas por Christiano Jr. no século XIX) no cenário contemporâneo da feira. O resultado é uma fabulação perturbadora onde passado e presente coexistem: ancestrais e descendentes compartilham o mesmo espaço, questionando a noção de tempo e evidenciando como a empresa colonial ainda ecoa na sociedade brasileira. Mais do que denúncia, o projeto é um ritual de visibilidade – uma convocação fotográfica para que enfrentemos as questões históricas não resolvidas que assombram nosso futuro.
Conheça mais sobre este trabalho visceral e os projetos que honram a ancestralidade na entrevista que segue.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 46 anos de idade, vivo, resido e trabalho em Salvador-BA.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Comecei a fotografar em 2003 com a intenção de construir um trabalho autoral com Fotografia Documental Contemporânea, movido pelo entusiasmo que sinto pela cultura popular afrobrasileira. A fotografia para mim é um sacerdócio, um projeto de vida; quero deixar um legado do Brasil que eu sonhei.
[Minibio] VINICIUS XAVIER [1979, radicado em Salvador-BA-BRA] é pai de Caymmi e Elza. Ogan de Xangô do Terreiro Ilê Axé Icimimó, Cachoeira-BA. Graduado em Comunicação Social e pós-graduado em Antropologia. É colecionador de arte popular e música popular brasileira em vinil. Fotógrafo autoral desde 2003, seu discurso visual propõe um encantamento da cultura popular afrobrasileira.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O ensaio ECO EGUM é uma vontade antiga que eu tinha de realizar um trabalho sobre o principal evento que definiu a nossa sociedade: a escravidão e o tipo de colonização que foi implantada por aqui. Acabei usando a Feira de São Joaquim, em Salvador-BA, como um microcosmo de Brasil.
Toda a minha produção fotográfica é construída no sentido de valorizar a cultura popular afrobrasileira e pensar o Brasil nas suas características mais maravilhosas e também nas suas complexidades, em seus desafios.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Acabei recentemente de concluir esse Ensaio ECO EGUM; vou circular um pouco em alguns festivais de fotografia e depois retomar o projeto do meu livro sobre o Terreiro de Candomblé Ilê Axé Icimimó, casa que sou Ogan na cidade de Cachoeira-BA, tombado pelo IPHAN e IPAC. Preciso assentar as imagens que venho produzindo lá há mais de uma década.
