Há duas décadas Vinícius Xavier vem se dedicando a fotografar manifestações da cultura popular afrobrasileira, com foco no estado da Bahia, onde vive. Por meio de seus projetos autorais, ele contribui para criar uma contranarrativa capaz de questionar o violento processo de colonização impresso no seio de nossa sociedade.
Seu ensaio Nego Fugido é um dos finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024. Retrata uma tradicional expressão lúdico-estética e política da cultura popular do Recôncavo da Bahia, que ocorre há mais de um século anualmente durante o mês de julho em Santo Amaro da Purificação, e aponta para o processo histórico da escravidão e a respectiva luta pela liberdade.
Na entrevista a seguir, Vinicius Xavier conta sobre sua trajetória e seu trabalho.
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Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
45 anos. Vivo e resido em Salvador-BA. Trabalho atualmente numa agência de propaganda como diretor de arte.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
VINICIUS XAVIER [1979, radicado em Salvador-BA-BRA] é pai de Caymmi e Elza. Ogan de Xangô do Terreiro Ilê Axé Icimimó, Cachoeira-BA. Graduado em Comunicação Social e pós-graduado em Antropologia.
É colecionador de arte popular e música popular brasileira em vinil. Fotografo autoral desde 2003, seu discurso visual propõe um encantamento da cultura popular afrobrasileira.
Com o seu mais novo ensaio Ìmalè – O Islã na Bahia, integrou o Festival Internacional de Fotografia Parati em Foco deste ano. Além disso, participou do Festival ART SOUTERRAIN – 15TH EDITION em Montreal Canadá, 2023. Foi finalista do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger 2016/17. Participou do Festival Internacional de Fotografia Parati em Foco – 2015. 10º Festival de Fotografia de Tiradentes – 2020. Integra o Memorial Pierre Verger da Fotografia Baiana – Salvador-BA. Assina o ensaio fotográfico do livro Livro Nós, Os Tincoãs. 1ª Ed. 2017. Participou do QXAS – 4º Festival de Fotografia do Sertão Central. SERTÃO ENCANTADO – Lutas e Resistências Selecionado via CONVOCATÓRIA. Ensaio Sagrados Sertanejos. 2021.
Comecei a fotografar em 2003 com a intenção de construir um trabalho autoral com Fotografia Documental Contemporânea, movido pelo entusiasmo que sinto pela cultura popular afrobrasileira. A fotografia para mim é um sacerdócio, um projeto de vida.
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Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O Ensaio NEGO FUGIDO, finalista no Festival FOTODOC é uma pesquisa que venho realizando há mais de dez em Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação-BA. O Nego Fugido é uma manifestação afrodiaspórica, lúdico-estética e política, uma das mais tradicionais expressões da cultura popular do Recôncavo da Bahia, conhecida mundialmente, acontece todo ano sempre aos domingos de julho. Sua narrativa aponta para o processo histórico da escravidão e a respectiva luta pela liberdade. Uma potente ópera popular de rua que acontece há mais de 100 anos.
A proposta desse ensaio é documentar e valorizar essa potente manifestação cultural. Além de provocar uma reflexão sobre o nosso processo histórico e o lugar do negro na estrutura social brasileira.
A minha produção fotográfica é totalmente direcionada para a nossa cultura popular afrobrasileira, é a minha maneira de criar uma contra narrativa visual ao processo de desencantamento que o processo colonial imprimiu no seio da nossa sociedade.
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Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente, dou continuidade ao Ensaio Ìmàle – O Islã na Bahia. Uma pesquisa sobre o Grupo/Centro Islâmico da Bahia, uma tradição afro-diaspórica que teve grande influência histórica e simbólica (Revolta dos Malês) no estado e sua capital.
Futuramente, penso em produzir um livro sobre o meu Terreiro de Candomblé para assentar as imagens que venho produzindo lá há mais de uma década. O Ilê Axé Icimimó, na cidade de Cachoeira-BA, tombado pelo IPHAN e IPAC.