A fotógrafa Priscila Ribeiro constrói uma obra que transforma a lente em instrumento de acolhimento, denúncia e visibilidade para histórias invisibilizadas. Com atuação que se expande por diferentes regiões do Brasil, ela desenvolve uma prática fotográfica profundamente comprometida com a justiça social e ambiental, onde a câmera funciona como espaço de escuta e conexão com realidades marginalizadas. Sua trajetória, iniciada em 2017 com fotografias de família, ganhou dimensão transformadora em 2021 durante um projeto no antigo lixão de Cuiabá, onde acompanhou o cotidiano de catadores e descobriu na fotografia uma ferramenta poderosa de dar voz a quem normalmente permanece fora do olhar público.
Seu ensaio “Depois da Chuva”, finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025, é um testemunho íntimo da resiliência gaúcha frente à maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Desenvolvido a partir de uma experiência pessoal – Priscila estava viajando com a família para Porto Alegre justamente quando as chuvas devastadoras começaram em maio de 2024 –, o trabalho representa um retorno consciente um ano depois para compreender como as comunidades estavam reconstruindo suas vidas. Percorrendo cidades como Roca Sales, Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio e a capital gaúcha, ela registrou não apenas os rastros materiais deixados pelas águas, mas principalmente as cicatrizes emocionais e os gestos silenciosos de resistência que emergem da perda. Mais do que documentar a destruição, a proposta foi revelar a “força invisível” que sustenta aqueles que reinventam o cotidiano e reafirmam sua humanidade mesmo diante da dor, conectando-se profundamente com sua crença na fotografia como espaço de encontro com a vulnerabilidade e capacidade de reconstrução humana.
Conheça mais sobre esta jornada de escuta ativa e os projetos que mapeiam impactos da mineração e lutas por moradia na entrevista que segue.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 42 anos e atualmente moro em Curitiba, mas meu trabalho se expande por diferentes regiões do Brasil.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Minha trajetória na fotografia começou em 2017, fotografando famílias. Mas foi em 2021, durante um projeto realizado no antigo lixão de Cuiabá, quando acompanhei de perto o cotidiano dos catadores, que a fotografia ganhou uma dimensão muito maior na minha vida. A partir desse momento, passou a ser uma ferramenta de denúncia, escuta e visibilidade de histórias muitas vezes invisíveis, permitindo-me dar voz e atenção a quem normalmente permanece fora do olhar público. Desde então, a fotografia ocupa um papel central na minha vida. Ela é meu meio de expressão, meu espaço de escuta e também uma ferramenta de conexão com outras pessoas e realidades.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do Prêmio Portfólio FotoDoc 2025. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Minha relação com o Rio Grande do Sul se intensificou em maio de 2024, quando estava em viagem com minha família para Porto Alegre, justamente no período em que a enchente histórica atingiu o estado. Estar ali, naquele momento, me permitiu não apenas ser testemunha do efeito devastador das águas, mas também conhecer pessoas, ouvir suas histórias e sentir de forma muito próxima a dimensão daquela tragédia.
O ensaio finalista “Depois da Chuva” nasceu dessa experiência pessoal e da necessidade de retornar ao estado um ano depois, para compreender como essas pessoas estavam reconstruindo suas vidas diante da devastação. Percorri cidades como Roca Sales, Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio e Porto Alegre, registrando não apenas os rastros deixados pela água, mas também as cicatrizes emocionais e os gestos de resistência que emergem em meio à perda. Minha proposta foi olhar para além da destruição material, revelando a força invisível que sustenta aqueles que, mesmo diante da dor, reinventam o cotidiano e reafirmam sua humanidade.
Esse trabalho se conecta profundamente com minha trajetória, pois acredito que a fotografia é justamente esse espaço de encontro com a vulnerabilidade, a resiliência e a capacidade de reconstrução do ser humano diante das adversidades.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Atualmente, me dedico a projetos documentais sobre corpos e territórios impactados pela mineração de lítio e de terras raras no Brasil, explorando não apenas os efeitos socioambientais dessa atividade, mas também o risco de apagamento cultural que ameaça modos de vida tradicionais.
Paralelamente, sigo desenvolvendo um projeto ligado à luta por moradia no Brasil, especialmente em ocupações urbanas, onde famílias em situação de vulnerabilidade habitacional erguem com as próprias mãos os territórios onde possam viver com dignidade. No futuro, quero consolidar essas narrativas e transformá-las em exposições e publicações que ampliem o diálogo público sobre justiça social e ambiental. Além disso, desejo expandir meu olhar para outros projetos que dialoguem com as urgências do nosso tempo. Meu propósito é que minha fotografia vá além do registro e que seja vista como um gesto de acolhimento, visibilidade e resistência.
