Numa ponta da mesa, o brasileiro apenas escolhe qual o veneno vai lhe matar, como diria Emicida. Na outra, políticos assinam projetos de lei que liberaram 290 substâncias, sendo que dessas 118 são consideradas altamente tóxicas e 32% foram proibidas na união europeia. Muitas delas, associadas a mal de Parkinson em agricultores, desenvolvimento de tumores em humanos e animais, entre outros problemas.
A maior parte do uso destes agrotóxicos é usada para produção de soja e milho, produtos em que o Brasil lidera a produção mundial. O agrotóxico chega à mesa das pessoas através de derivados de leite, da carne, do cereal, de produtos industrializados que fazem uso de lecitina de soja, como margarina, sorvetes, biscoitos, ovos, frango, entre outros. Quando usados por pequenos agricultores, o perigo aumenta ainda mais, podendo causar acidentes do manuseio, sequelas nos usuários – que aplicam os produtos sem segurança -, e contaminando lençóis de água, alimentos e colocando em risco populações polinizadoras.
A contaminação dos alimentos é apenas uma parte dos malefícios de um agronegócio mal pensado. A expansão feroz da devastação de biomas brasileiros foi fortemente propagandeada e incentivada pelo governo federal e por parte dos legisladores (a famosa Bancada do Veneno) nos últimos 4 anos, num balé mortal orquestrado por lobistas e performados pelo crime organizado. A promessa é de um desenvolvimento e riquezas que nunca se concretizam, principalmente para os pequenos donos de terra e para os povos indígenas.
A realidade é que o fogo avançou nos últimos 4 anos com total descaso do Governo Federal. Foi público e notório o discurso do ex-presidente e de seus ministros do meio-ambiente em passar a boiada. E foi pública também a inação das forças que deveriam proteger as florestas. Os poucos que agem, foram destituídos de seus cargos.
Depois das queimadas vem a grilagem de terras. Pequenos agricultores e indígenas sofrem ataques de milícias, coronéis e garimpeiros que possuem suspeita proximidade ao Governo Federal. Esses povos também sofrem com a propaganda institucional contra o modo de vida indígena e quilombola, fazendo crescer o preconceito sobre esta população. Com o “aval” do governante, morte e destruição se espalharam por todo o País em uma escalada assustadora.
Para além das questões sociais, as consequências no clima são evidentes. O Nordeste do Brasil se transformou na maior área em desertificação do planeta. As secas são cada vez mais severas nas regiões centro-oeste, sul e sudeste e as queimadas não provocadas também aumentaram. Falta água para gerar energia. Falta água para uso humano. Sobra fumaça. Enquanto isso, litros e mais litros dessa água toda são exportadas em forma de ração animal para a China.
O ensaio não tem o intuito de convidar para reflexão sobre um assunto que, de tão explicado, virou óbvio. Não há mais tempo. É tempo de agir com responsabilidade. É preciso parar a boiada.
O ensaio foi inspirado e concebido a partir do poema de Jeová Santana, durante a oficina Fotografando Poesia, ministrada por Jorge Vieira.
POEMA (LITERALMENTE) CONCRETO
Agro é tech
Agro é pop
Agro é tudo
(Agro é morte)
Agradecimentos especiais as pessoas nas fotografias:
Fernanda Simões, Galego do Veneno, Clara Barbosa, Victor Romero e Jaynara Nuray.