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A benção da Folia

Taynara BarretoPorTaynara Barreto
20 de março de 2024
em Ensaio

Fotografado em janeiro de 2020, pouco tempo antes dos primeiros anúncios de lockdown da pandemia de covid-19, Taynara Barreto registrou o encontro de diversos grupos de Folias de Reis, da região Sul do Espírito Santo, para receberem a benção e comemorarem o Dia de Santo Reis (6 de janeiro), conforme a tradição cristã.

A data é significativa para os grupos, é o momento de encontrarem as bençãos, encerrarem o período natalino, nascimento de Cristo. Nesta comemoração, os grupos se organizam, para que um a um, façam o cortejo, das ruas até o altar diante de um sacerdote.

As Folias de Reis sofrem inúmeros preconceitos religiosos, uma vez que as pessoas associam a prática à rituais pagãos, principalmente pela figura do Palhaço. Ao receberem a benção em um templo cristão, os grupos recebem também a anuência social, importante para a manutenção da prática. Neste encontro, a sociedade tem a possibilidade do encontro para uma quebra de tabus necessária.

Os músicos e foliões adentram o templo entoando seus cânticos de adoração ao menino Deus, enquanto os Palhaços aguardam do lado de fora do templo. Eles representam os soldados do Rei Herodes, que de acordo com a história, mandou matar todos os bebês nascidos naquela data com medo de perder o trono para o Filho de Deus. Os Palhaços representam o terror empregado pelo Rei diante da perversidade de seu decreto. Porém, alguns soldados começaram a cantar e pular, na intenção de distrair os comparsas e deixarem com que os Reis Magos passassem para salvar Jesus.

As fotos deste ensaio, representam a perpetuação da prática. Crianças e adolescentes seguem os passos de seus ancestrais. Afirma-se, que receber o legado para continuar os trabalhos de uma Folia, é como receber um tesouro, deve-se cuidar e proteger para que nada se perca.

Após a pandemia, o encontro de folias demorou a acontecer novamente. Somente agora os trabalhos estão sendo retomados. Diante da perda de inúmeras vidas para a covid-19, as gerações presentes naquele 6 de janeiro de 2020 mal sabiam que estavam fazendo história.

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Taynara Barreto

Taynara Barreto

Nascida em 1989, no município de Guaçuí e sem qualquer vínculo com a fotografia, Taynara Barreto se descobriu através do olhar. Formada em Comunicação Social, a capixaba de 34 anos voltou-se para a fotografia documental como paixão. Ganhadora do Prêmio Vale Apoia 2023, com seu trabalho de registro das tradições culturais populares da região. Taynara, também é ganhadora do Prêmio XVI Marc Ferrez de Fotografia, com o projeto A cidade se faz no caminho, que visa valorizar o cotidiano de uma pequena cidade do interior no Espírito Santo. Recentemente, participou da exposição coletiva “E eu, mulher preta?, na Galeria Capixaba Homero Massena, com imagens que revelam a beleza de mulheres negras, detentoras de saberes ancestrais.

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