Inspirado no poema homônimo de Nicolas Behr sobre “um pedaço do Planeta que desaparece”, esse ensaio retrata uma dentre as tantas consequencias da destruição do Cerrado: as tempestades de terra e poeira entre setembro e outubro de 2021 em várias partes do Brasil.
“Agora prepare seu coração:
Correntão vai passar e levar tudo:
Ninho de passarinho rasteiro também.”
Essas tempestades são formadas pela combinação de ventos fortes que precedem temporais em regiões planas, com baixa umidade, alta temperatura e com solos ressecados por estarem descobertos para a agricultura em larga escala. Apesar de não serem inéditas no país, a grande magnitude foi assustadora.
“Depois do correntão
Brotou o que tinha que brotar,
Mas já era tarde.
Faca fina cortou raiz pela raiz.”
Todo o material particulado levantado pelos ventos durante as tempestades pode causar irritação de mucosas, como os olhos, e problemas respirátórios, virando uma questão de saúde coletiva nas áreas afetadas. Essa poeira é a camada de maior fertilidade do solo, que deveria ser conservda para manter sua biota e a produtividade agrícola.
“Aí não brotou mais nada.
Aliás, brotou coisa melhor:
Soja, verdinha, verdinha
Que beleza, diziam.”
Nas últimas décadas, quase metade da vegetação foi suprimida para monoculturas no Cerrado. Consequentemente, as temperaturas máximas já são em média 4 graus Celsius mais altas que em 1961, e a umidade é 15% menor. Essa nova condiçao ambiental – seca, quente e estéril – que o agronegócio impôs ao Cerrado é agravada pelas mudanças climáticas em escala global, favorecendo a ocorência cada vez mais frequente dessas tempestades de poeira.
“Antes de terminar pergunto:
Quem vai pagar a conta
De tanta destruiçao?”
Proteger a cobertura vegetal é fundamental para que o solo permaceça úmido mesmo com estiagens prolongadas, e para diminuir a intensidade dos ventos fortes na superficie, evitando novas tempestades de poeira. Ou seja, não só combater o desmatamento, mas restaurar áreas degradadas e solos perdidos é essencial assegurar o bem estar de todas as espécies que habitam o Cerrado – incluindo a humana.
“O cerrado é milagre,
Minha gente.”