Somente a fotografia é capaz de captar breves instantes, transformando-os em imagens sintéticas de toda uma história. Mas sua captura depende da qualidade do fotógrafo. Douglas Fischer foi capaz de captar esse instante sintético, quando acompanhava uma tropilha de cavalos no interior do Uruguai, para uma tradicional festa popular gaúcha.
Intitulada “À espera” e uma das finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024, a foto foi feita em uma localidade chamada Passo Cacildo. O dono de uma mercearia fazia suas contas quando uma pessoa chegou a se sentou, olhando para o horizonte enquanto aguardava ser atendido. Foi nesse instante ínfimo que o clique ocorreu, sintetizando de maneira magistral parte da cultura gaúcha interiorana, expressada tanto pelo local como pelos personagens retratados.
Douglas Fischer trabalha como procurador e encontra na fotografia sua principal fonte de tranquilidade mental. Conheça mais sobre sua criação fotográfica na entrevista abaixo.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 54 anos. Vivo em Porto Alegre, onde trabalho. Sou Procurador Regional da República (membro do Ministério Público Federal), atuando junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, além de ser professor de Direito Processual Penal.
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
A fotografia começou como uma brincadeira, especialmente em viagens. Quando nasceu meu filho, há 18 anos, comprei alguns equipamentos melhores para poder fotografá-lo. A partir dali, contando uns 10 anos para cá, comecei a investir e estudar um pouco fotografia, mas sempre de maneira autodidata e com auxílio de amigos fotógrafos.
A fotografia é uma forma de expressar minha visão de mundo de acordo com os temas escolhidos, além de ser hoje, sem dúvida alguma, minha principal fonte de tranquilidade mental.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
Esse trabalho foi feito no interior do Uruguai, em fevereiro de 2024, num local denominado Passo Cacildo. Faz dois anos que tenho acompanhado uma tropilha de cavalos, que são levados de uma pequena localidade até Tacuarembó (são aproximadamente 100km, por corredores de campo, durante três dias e duas noites), onde ocorre a tradicional “Fiesta de la Patria Gaucha”. Dorme-se no campo. Próximo à primeira parada, havia esse pequeno armazém, muito típico. Precisávamos comprar uns biscoitos (chamados de “galletitas”, muito típicas no Uruguai). Além de um pouco de vinho, vendido em “garrafas” pet (mas de excelente qualidade). Vende-se literalmente de tudo, até “gasolina” em pequena quantidade. Sem que o proprietário visse que eu o observava enquanto fazia contas, uma pessoa chegou e sentou no local, com um “olhar perdido”, aguardando para ser atendido. Foi o tempo necessário para clicar sem que vissem a foto, pois a luz no final do dia entrava pela porta e permitiu uma composição que me agradou muito.
Essa fotografia se encaixa num dos eixos que tenho tentado desenvolver a partir do incentivo de um grande amigo e fotógrafo, muito conhecido, multipremiado, Tadeu Vilani. Explorar as imagens no campo, do pampa, do gaúcho na região do Uruguai, Brasil e Argentina.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Há um projeto de fazer um livro sobre as imagens das viagens do campo em homenagem a um dos principais tropilheiros do Uruguai, que, como dito, já acompanhei por duas jornadas.
Também um projeto de imagens de natureza, envolvendo fotografias no Pantanal, na África e no sul do Brasil.