Desde que o debate sobre o aquecimento global teve início, muito se fala sobre a necessidade de preservar a Amazônia. Esse bioma, no entanto, segue sendo pouco representado nos meios de comunicação nacionais. Nascido e atuando em Manaus (AM), Raphael Alves é um dos mais talentosos fotógrafos a tratar das questões amazônicas atualmente.
Os dos principais temas de sua produção é o ciclo de cheias e secas dos rios da Bacia Amazônica, de vital importância para a vida dos moradores da região, uma vez que os rios são a principal fonte de alimentos e via de transporte. Embora a variação do volume dos rios seja um evento natural, ela vem ganhando contornos cada vez mais extremos com as mudanças climáticas. No segundo semestre de 2023, foi registrada uma seca recorde. Consequências desse fenômeno estão registradas em “Quando secar o rio da minha infância”, Ensaio de Raphael Alves que está entre os finalistas do Prêmio Portfólio FotoDoc 2024.
Conheça abaixo mais sobre esse trabalho e sobre a trajetória de Raphael Alves, que esteve entre os ganhadores do Prêmio na edição 2023.
Quantos anos tem? Onde vive e trabalha atualmente?
Tenho 41 anos. Moro em Manaus-AM, cidade em que nasci. Sou fotógrafo na região
Conte um pouco da sua trajetória pessoal na fotografia. Quando começou a fotografar e por que? Qual papel tem a fotografia em sua vida?
Eu comecei a fotografar logo no início da faculdade de Jornalismo. Fotografia foi justamente entre as disciplinas a que me fez escolher a carreira. Trabalhei em jornais locais e segui estudando. Atualmente colaboro com veículos locais, de outros estados e de outros países, sempre aqui na região em que vivo. Também sou membro do projeto Everyday Brasil. A fotografia, em mim, começou movida pela curiosidade, e se tornou a minha principal forma de narrar as coisas que vejo e como interpreto o que me cerca.
Conte um pouco sobre seu trabalho finalista do PPF 2024. Quando e onde foi realizado? Qual a proposta? De que maneira e em que medida ele se encaixa em sua produção fotográfica?
O trabalho foi realizado no Amazonas no período da seca recorde da Bacia Amazônica no segundo semestre de 2023. No entanto, ele é um recorte de um trabalho mais amplo que realizo de documentação da relação do ser humano com os ciclos de vazante e enchente dos rios da região. Venho realizando esse trabalho, chamado “Quando as águas”, desde 2008.
Apesar do ciclo das águas ser algo natural – os rios enchem e secam todo ano – eventos extremos como o do ano passado estão cada vez mais frequentes. As mudanças climáticas já afetam o dia a dia tanto das cidades quanto de comunidades tradicionais em áreas rurais.
Tenho um interesse especial nesse tema, já que os rios ditam o ritmo da vida no Amazonas. Além do mais, como qualquer parte da natureza, também contribuem para o equilíbrio no planeta. Enquanto a busca por riqueza a todo custo e a exploração indecorosa estiverem acima da vida, viveremos consequências cada vez mais drásticas. Eu espero portanto que o trabalho de fotógrafas e fotógrafos da região Amazônica, tal como o meu, possam servir para compreendermos esse tempo em que vivemos. Afinal, se “a fotografia não pode mudar o mundo, ela pode mostrar o mundo. Especialmente enquanto ele muda”.
Em quais projetos trabalha atualmente? Quais seus planos para o futuro próximo em termos de produção fotográfica?
Esse trabalho sobre os ciclos da água segue sendo realizado. Fora isso tenho outros trabalhos mais pessoais, mais subjetivos e sigo trabalhando nas coberturas para as quais sou contratado.