O Baile Pastoril Queimada da Palhinha da antiga Fazenda Coqueiro, atual comunidade de Palmares, município de Simões Filho, Bahia, é uma expressão cultural centenária portadora de referência à identidade de um importante grupo formador da sociedade brasileira: as comunidades negras recém-libertas que viveram e trabalharam como agregados nas fazendas de áreas rurais do entorno de Salvador nas décadas após a Abolição da Escravatura no país, e os seus descendentes. Grupos de tradição oral, narram através das suas festas, cantigas, versos, danças, dramatizações as suas visões de mundo e formas de viver, sua relação com o divino, com a natureza e com as pessoas, suas dores e esperanças.
No quintal de uma casinha muito antiga de Palmares, um barracão é iluminado e enfeitado com bandeirinhas, fitas e panos de chita, o chão coberto por folhas perfumadas. No canto do salão há uma pequena lapinha adornada com galhos, com um presépio armado com a imagem do Deus Menino recém-nascido e dos Reis Magos, além de vários santinhos, animais, bonequinhas, luzes pisca-pisca, flores de papel crepom, frutas e velas acesas. O barracão é incensado pelas Mestras Pastoras para dar início à festa.
Duas filas lideradas pelas pastoras mais velhas se formam diante do presépio e é assim que as pastorinhas bailam, cantam, declamam versos, para em seguida formarem um cortejo com as pastoras e as pastorinhas segurando velas acesas e galhos das palhas de São Gonçalinho tiradas do presépio, que é desarmado. Uma criança segura a imagem do Deus Menino e segue na frente do grupo.
O cortejo circula ao redor das palhas no chão, cantando cantigas. O público acompanha tudo de perto, alguns fazem o giro ao redor das palhas junto com as pastorinhas. O Mestre Tocador ateia fogo nas palhas, as pastorinhas ajudam com as velas acesas, e se forma uma enorme fogueira.
Essa cena acontece todos os anos no Barracão do Quintal de Dona Pina no dia da queima das palhas, a última jornada ainda festejada dos bailes pastoris de Natal. O Baile Pastoril Queimada da Palhinha pode ser considerado um tesouro cultural do município de Simões Filho, da Bahia e do Brasil.
Este projeto apresenta imagens documentadas pela fotógrafa Águeda Mascarenhas, produzidas entre os anos de 2019 e 2024, a partir de uma parceria com a historiadora Wayra Silveira que coordena projetos de salvaguarda do Baile Pastoril Queimada da Palhinha de Simões Filho, Bahia, desde 2002.