“Na infância,
via nas paineiras,
maneiras
de dizer pai”.
Há algum tempo, ao ler o ensaio do escritor e neurologista Oliver Sacks para o jornal NY Times, quando ele próprio relatou publicamente um diagnóstico feito em 2005 sobre uma metástase em seu fígado que dava-lhe apenas alguns meses de vida, um ponto em especial tocou-me de forma lancinante, mas com a delicadeza rara que só encontramos em momentos de extrema sensibilidade: “Não há tempo para nada que não o essencial”.
Não foram raras as vezes em que tive que lidar com questões essenciais, principalmente as que tangem e cerceiam a própria vontade, menos raras foram as vezes em que me bateu à porta a sensação da urgência em conflito com a sensação de resistência.
“Esmoressências”, é uma revisão dos conflitos acumulados pela observação da experiência (convalescência) de outra pessoa. Um exercício de descolamento entre um drama pessoal e a construção de uma narrativa visual pelo confinamento da essência de um homem que gradativamente esmorece e suas formas se fundem às formas dos objetos que os cercam.
Esse projeto é marcado, por uma série de relutâncias. Primeiro, pela dificuldade em fazê-lo, sem invadir a privacidade já tão invadida de alguém em franca convalescência, ainda mais quando esse alguém é meu pai. Outros pontos dizem respeito à exposição pública de meu pai a partir dessas imagens, a contradição de como as sessões fotográficas me fazem conviver melhor com a eminência diária de sua morte, e como lido com o processo de edição dessas imagens, onde tudo se aglutina em clichês de sentimentos, dramas e de proposições estéticas.
Uma grande contradição falar da urgência do essencial sob a ótica da perda gradativa da própria essência, mas é nesse sentido que vejo que nossa essência urge por convergências e assim me permito compartilhar essa história.