Estudo fotográfico aéreo com 10 fotografias que retratam a degradação dos biomas brasileiros em consequência da expansão territorial agrícola no país, e o impacto a longo prazo sobre a natureza e consequentemente a vida.
Apresentação
en-ga
nome feminino
1. [Popular] Pasto; cevadeira; parasitismo.
na enga
- Em casa alheia.
- Sem ser convidado.
Ir a enga, ou “Engar”, na cultura popular, é um termo pejorativo que refere-se ao ato de usufruir, geralmente nas horas de alimentação, das instalações e víveres alheios sem ser convidado. Tomando proveito de uma situação.
Com um argumento que traz uma reflexão sobre o impacto da monocultura a longo prazo, este é um estudo fotográfico para ser realizado em todos os biomas brasileiros . Desprovido de uma localidade pontual, este não é, infelizmente, um fator que se restringe a um ponto específico do Brasil.
A intenção é buscar árvores para mostrar, do alto, o contraste que existe entre uma grande área devastada pela ação humana devastadora, e árvores solitárias que resistem, ao menos por um momento, aos descontroles de um suposto desenvolvimento baseado em monoculturas. Questionando assim a ideia de invasão e mudanças no habitat local, como algo positivo para a economia de longo prazo, e a sustentabilidade em relação a vida na Terra.
Com um caráter gráfico retratando árvores solitárias em solos degradados, este estudo é baseado conceitualmente na reprodução e reintrodução do conceito de natureza morta na fotografia. Que consiste em pictografar o tempo que nos resta através de objetos inanimados retirados de seu contexto natural. Reintroduzidos em um cenário totalmente diverso, onde se tornam um símbolo. Nos lembrando que o fim é a única certeza que temos.
Assim como Cézanne retratou as maçãs apodrecerem enquanto pintava, me ocorre a solidão de árvores em melo ao que não lhes assemelha. Um pasto.
Uma monocultura. Um cenário de total isolamento sintrópico. Parecendo desligadas de sua função. Suspensas. Presentes ali apenas para significar seu fim. Antes, onde havia um lugar sinônimo de simbiose, agora resta apenas a solitude.
Por natureza morta antes faz-se necessário o entendimento de natureza viva: o retrato daquilo que está em atuação com o mesmo. Gerando um vínculo de cooperação com os próximos em proveito mútuo, perpetuando a continuidade da vida como movimento simbiótico.
O recorte aéreo da retirada da essência da árvore é o que particulariza a intimidade do estudo fotográfico com o termo “Engar”. Termo da agricultura que se refere a ocupação de um pasto. A invasão de um local.
Retratar a natureza morta é um ato pictográfico que se repete ao longo dos séculos sem, no entanto, fazer parte de nenhuma escola em particular. Desta maneira, por natureza morta, entende-se aquilo que ilustra os fenômenos que dizem respeito ao efeito terminal que resulta da extinção do processo homeostático em um ser vivo; e com ele o fim da vida.
Uma árvore só, totalmente deslocada de sua natureza; uma maçã podre ao lado de um crânio sobre a mesa. O retrato daquilo que se aproxima da morte. A consciência do fim.
Ver o cenário de cima torna-se um exercício de tirar de contexto o cotidiano, onde uma árvore solitária me estranha mais vista do alto, do que quando passo ao seu lado na rua. Atentar-se ao fim destrutivo que significa uma árvore fora de seu melo, é perceber que o contexto foi removido. Deixando à árvore somente o silêncio do tempo que ainda lhe resta.
Perceber esta figura emblemática da fotografia, “a árvore solitária” a um ponto de vista que denuncia a falta de seu ecossistema, traz luz a nossa condição finita. E, como nós humanos, agentes do melo, isolados por
escolha, estamos negligenciando a vida como algo universal.
Produzir um estudo fotográfico como este, é a minha maneira de juntar a abstração artística fotográfica com um tema de importante relevância social e ambiental e que nunca esteve tão em pauta como nos dias atuais.
Descrição Final
Ir a Enga é um ensaio que traz à tona o desligamento do ser humano com a sua essência. Como nós, homens modernos estamos, por interesses superficiais, acelerando a nossa extinção dentro deste Planeta. Como nossas ações, como atuantes do meio, foram transformadas em parasitismo e ações de destruição, levando a extinção conjunta tudo aquilo que vive em harmonia sintrópica com o ambiente.
A ideia é através de fotografias aéreas, trazer a reflexão de que se continuarmos a agir da maneira vigente, estaremos fadados a morte em pouco tempo. Assim como a personagem principal deste estudo, que rapidamente perde seu habitat e contexto, sobrando-lhe apenas a resistência de se manter viva completamente fora de lugar.
Fotografias que trazem a discussão dos impactos socioambientais da expansão predatória do território agrícola brasileiro.