Raízes Africanas: Um Legado de Resistência e Cultura é um portfólio documental que registra expressões de fé, tradições e identidades afro-brasileiras na Bahia. As imagens percorrem festas populares, religiões de matriz africana, manifestações culturais, territórios urbanos e cotidianos periféricos.
Produzido entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, principalmente em Salvador, o projeto valoriza a ancestralidade africana como base viva da cultura brasileira. Ao revelar gestos, personagens e contextos que muitas vezes passam despercebidos, a série propõe um olhar sensível e comprometido com a memória, o pertencimento e a resistência do povo negro no Brasil.

Mãos de Sal é o registro de uma vida inteira dedicada ao mar. São mais de 40 anos de pescaria e sobrevivência, com mãos calejadas, salgadas e enrugadas, que trabalham antes do nascer do sol e só descansam ao anoitecer. Representam a resistência, a ancestralidade e a cultura de um povo que ainda hoje ensina com o gesto e o silêncio.

Homem Fumando fala sobre resistência, liberdade e respeito. O olhar atravessado pela fumaça do charuto evoca a figura do negro fujão — aquele que se recusa a aceitar a condição de escravizado e constrói sua liberdade pela astúcia, pela presença, pela desobediência. Seu rosto semicoberto não se esconde: desafia. Ele exige o que sempre foi seu.

Na beira do mar, em silêncio e reverência, uma mulher expressa sua fé com gestos simples e profundos. O adorno que carrega — entre contas e panos sagrados — não é apenas estética, mas parte de uma memória ancestral que resiste, se afirma e se transforma em beleza.

No cortejo da fé, o canto das baianas ecoa como reza ancestral. Cada verso entoado, cada toque no adjá, reafirma a presença viva dos Orixás nas ruas da Bahia. Um legado transmitido por gerações de mulheres que carregam, na voz e no corpo, a herança da resistência e da espiritualidade afro-brasileira.

Na Praia do Rio Vermelho, o povo se reúne diante da Casa de Iemanjá para entregar flores, rezas e esperanças. É dia 2 de fevereiro, quando o sincretismo afro-brasileiro transborda em fé e celebração. No mar, as embarcações aguardam. Em terra, o povo canta, dança e oferece — em comunhão com o invisível.

No coração do Pelourinho, entre a bênção do Olodum e os goles de cravinho, ele carrega santos no peito e samba nos pés. Na Bahia, a fé e o prazer coexistem sem culpa: é o axé que pulsa nas esquinas, no corpo e no sagrado. A imagem de um povo que reza dançando e resiste celebrando — com devoção, desejo e ancestralidade.

No coração do Centro Histórico de Salvador, mãos negras preparam o alimento que sustenta o corpo e a memória. Essa mulher é símbolo de tantas: mães solo, cuidadoras, trabalhadoras invisíveis que enfrentam abandono, violência e racismo. Sua força alimenta a vida — literal e simbolicamente — em silêncio, todos os dias. É resistência em estado puro.

A capoeira está presente em todos os lugares. É um instrumento de luta e resistência que mantém viva a história, o legado e a cultura do povo africano no Brasil.

Com seu torso ereto, o olhar firme e o turbante que traduz história, essa Baiana de Acarajé carrega mais que ingredientes: carrega a ancestralidade africana viva nas ruas da Bahia. Sua presença é ritual, resistência e memória — símbolo de uma fé que alimenta o corpo e a alma.

Trazemos no corpo o tambor da memória, nos olhos a luz dos que vieram antes, e nos passos a força de quem nunca deixou de dançar.

Sorriso de quem carrega o tempo no corpo e a história no olhar. Bahia, 2025.

No coração do Pelourinho, o batuque desenha o ritmo da herança. Entre palmas, risos e celulares no ar, dois corpos se encontram no centro da roda como num transe. É alegria que resiste, é memória que dança. Em Salvador, o samba não é apenas festa: é comunhão, ancestralidade e vida que insiste em pulsar.

palavras.

Na Bahia, vestir-se é um ato de afirmação. Com seus adornos, turbantes e tecidos africanos, essa mulher carrega na estética a herança de um povo que resistiu, criou e encantou. O sorriso estampado no rosto não disfarça a luta: o transforma em beleza. Estilo, aqui, é memória e orgulho.