O presente trabalho é composto por imagens que retratam a pandemia de coronavírus na cidade de Marília/SP. Trata-se de um recorte capaz de, uma vez extrapolado, evidenciar a forma específica pela qual se desenrolou a crise sanitária nas cidades do interior do Estado. Embora diferentes os cenários, pode-se dizer que a crise observada em Marília foi uma repetição tardia, em menor escala e intensidade, daquela vista nos grandes centros urbanos, nos quais se instalou o caos. Apesar disso, a cidade passou por momentos dramáticos, enfrentando superlotação de hospitais e alta no número de óbitos registrados por dia.
As fotografias ora apresentadas, no total de quinze, contam essa história seguindo o fio dos acontecimentos que então se sucederam, a saber: o isolamento social imposto; o surgimento de iniciativas solidárias em torno aos mais vulneráveis; os protestos desencadeados por contradições sociopolíticas que desembocaram no “breque dos apps”, movimento capitaneado por motoristas de aplicativos; as testagens em massa; o agravamento da crise sanitária, com aumento de internações e óbitos; e, por fim, a chegada da vacina.
Para além de imagens gerais da pandemia, optou-se por jogar luz sobre os profissionais que ocuparam as primeiras fileiras no enfrentamento à Covid-19, revelando, por meio de uma abordagem mais intimista, suas angústias e, também, sua força. Assim é que, se a primeira foto retrata o isolamento social imposto pela quarentena, a segunda imagem expressa o isolamento e a solidão muitas vezes vividos pelos próprios profissionais de saúde. É certo que a quarentena agravou a situação das pessoas mais pobres. Ao mesmo tempo, propiciou a tomada de iniciativas solidárias por parte da sociedade em geral.
Nessa toada, a Foto 3, ao contemplar a arrecadação de alimentos para famílias em estado de vulnerabilidade, o faz apenas para remeter o expectador à solidariedade que emana do abraço silencioso e necessário, captado na Foto 4.
Por sua vez, a continuidade da crise sanitária também impactou o mundo do trabalho e alimentou suas contradições internas. Nesses marcos, a Foto 5 mostra três motoristas de aplicativos e sua luta por melhores salários e condições laborais, sendo seguida pela imagem de três jovens médicos que, à semelhança, exibem uma postura resoluta e altiva diante dos dilemas que enfrentam (Foto 6).
A sétima imagem apresenta o início das testagens em massa, passo importante adotado pelo poder público. É sucedida pela imagem de uma profissional de saúde que aponta seu termômetro para a câmera como se empunhasse uma arma. Está, em suma, pronta para a batalha que se avizinha (Foto 8). A fotografia seguinte (Foto 9) representa um momento sensível da crise sanitária no município, no qual se verificou um grande aumento de casos de Covid-19. Nela, o paciente hospitalizado encara o expectador. Está sereno, mas seu olhar é inquieto, como se suplicasse por ajuda.
Em contraste, a fotografia subsequente (Foto 10) registra a intimidade do momento em que uma profissional de saúde se prepara para o trabalho. O olhar nela estampado reflete calma e concentração. Será ela a sair em socorro ao paciente inquieto? Em prosseguimento, a Foto 11 ilustra o ápice da pandemia em Marília, quando a cidade registrava grande número de óbitos diariamente. Na imagem, observam-se dois trabalhadores abrindo mais uma cova no cemitério. Na foto contígua, porém, já não figuram mais trabalhadores da saúde.
Estes deram lugar ao agente funerário (Foto 12). Por fim, a Foto 13 capta o aguardado momento da chegada da vacina, que aportou sob fina garoa e forte escolta policial. O alívio e a felicidade trazidos pelo imunizante estão registrados nas Fotos 14 e 15 que, ao fechar o portfólio, veiculam uma mensagem de esperança.