Sinal vermelho é um convite a ir à deriva pelas ruas e experienciar a cidade em novos modelos de conhecimento do urbano, em uma aproximação contemporânea que convive com as diferentes questões sociais aprofundadas ainda mais depois das mudanças e adaptações da pandemia. Neste percurso, as possibilidades de caminhos a serem seguidos me fez aproximar daqueles que são subjetivados e objetivados pela lógica da marginalização, carregando em seus corpos as marcas da desigualdade social e da luta frente à gestão da vida que, muitas vezes, opera pela lógica racista.
Ao me deslocar, usei dos princípios cartográficos nas andanças urbanas, como pressuposto do “transver” e no encontro com o Outro que torna forma ativa e ajusta a cada realidade, à procura dos índices sócios espaciais, que acometem à invisibilidade em seus espaços na cidade: modos de habitar, modos de deambular, esmolar ou mesmo esconder e sobreviver.
Também buscou-se manifestar alguns elementos desta complexa máquina-cidade, sendo relevantes as contribuições das práticas fotográficas como uma possibilidade de experimentação, como instrumento de pensar, fazer e sentir, não apenas como imagem, mas de uma forma de assimilação psíquica do sujeito e cidade. Isto me fez pensar sobre o olhar singular do sujeito, que por sua vez também diz respeito ao contexto urbano como um todo.
Ao adentrar as ruas é preciso provocar o desejo de desnaturalizar a ir contra um modelo de automatismo, um processo de tentativa de ir ao encontro com o desconhecido, daquilo que ainda está por vir. É nesse deslocamento que os corpos afirmam a sua existência, expressam sua subjetividade, criam possibilidades e rompem as fronteiras usuais entre público-privado e íntimo-impessoal, ainda que sob a marca do estigma, da subtração e da deficiência.
É nessa mesma questão que as cidades evidenciam exatamente a natureza imanente da dobra que dissolve a rígida fronteira aparente entre interior e exterior, fazendo parte de uma trama ilimitada de acoplamentos entre máquinas de subjetivação. Nessa representação cartográfica, buscou-se “fazer-ver”, em uma relação de intimidade do sujeito e a rua, que fazem parte de uma realidade concreta em que o espaço se apresenta como alternativa possível de existência, sobrevivência e moradia, mesmo que de modo transitório.
É uma rua constitutiva de território já agenciado a linhas de fuga, que deixam marcas e ficam gravadas no corpo de quem vivencia, um processo que territorializa, desterritorializa e reterritorializa o sujeito da experiência que se torna o próprio lugar do acontecimento. As narrativas acerca da vida nas ruas me mostraram um cotidiano inusitado, que abarcou as maneiras como as pessoas se organizam para sobreviver, esmolar e habitar as ruas.
Esses modos de viver comparecem para dizer que esses sujeitos estão vivos, produzindo táticas e evidenciam novas formas de fazer existir e ocupar o lugar, traçando uma rede de comunicação entre o sujeito e o desconhecido.